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Como a fotografia entrou na minha vida?


Acho que começar o blog com outra história - que não a minha - não faria sentido com toda minha jornada até aqui. Se você quer conhecer, detalhadamente, o relato de como a fotografia entrou na minha vida, e me conhecer um pouco mais, te convido a essa leitura intimista e pessoal sobre a minha história.

 Quem sabe você se identifica também?


Minha história.


Minha relação com a fotografia não tem inspirações da família, referências próximas ou uma criança com uma câmera na mão desde pequena. Pelo contrário, eu até tive contato com a fotografia ao longo do tempo, mas parece que nós só nos conectamos quando eu realmente estava preparada internamente para aceitar quem eu sou e entender o meu caminho.


Vamos começar do começo? Eu sempre fui uma criança (e uma pessoa, rs) com muita dificuldade em ter foco, ficar parada, ler textos ou qualquer coisa com palavras. Tudo sempre se movimentava diante dos meus olhos e eu achava normal. A única maneira que eu conseguia/consigo aprender é pela escuta e pela imagem. Ao longo dos processos vividos como escola e faculdade, eu precisei desenvolver as minhas próprias maneiras de aprender - e sempre deu certo. Os métodos tradicionais nunca se encaixavam para mim e eu me sentia incapaz, burra e carregava sentimentos negativos em relação a isso. Mas, desde pequena, tudo que envolvia arte eu conseguia aprender e executar com muita, muita facilidade. Ballet, jazz e outras danças, ginástica olímpica, piano e teatro foram os únicos momentos da minha infância-adolescência em que eu me sentia, não só capaz, mas muito realizada. Como se eu, finalmente, conseguisse expressar e me comunicar com o mundo, sendo eu mesma.

Por questões e padrões sociais, eu nunca imaginei que algo assim poderia ser o meu trabalho. Eu ficava desesperada em pensar "eu vou ter que me encaixar em alguma profissão comum, meu Deus." e assim eu encontrei o jornalismo, hahahahah. A faculdade de jornalismo é um grande encontro de artistas - que por diversos motivos não seguiram ainda suas carreiras na arte. Claro, tenho alguns 2 ou 3 amigos de turma que realmente seguiram na área e são grandes jornalistas, mas a maioria eu encontro dentro do audiovisual e do meio artístico! hahahah.


A virada de chave aconteceu no meu TCC.


Bom, no último ano da faculdade, desenvolvendo o documentário do meu tcc sobre o skate feminino brasileiro, eu entrevistei e acompanhei as Dora, Yndi, Fadinha e Isa Pacheco em alguns campeonatos. As respostas que elas deram às perguntas mudaram a minha vida. Eu fiquei muito impactada com a relação que elas tinham entre skate (profissão) e vida real. Me lembro até hoje da resposta da Yndiara: "Não tem fora daqui ou dentro daqui. A minha vida inteira está aqui. Minhas amizades, meu trabalho, minha rotina." a Dora também completava: "O skate me levou à lugares que eu nunca imaginei estar. Ele é a minha vida. Não são adversárias competindo, são minhas amigas e no fim, o mais importante é estarmos realizadas e felizes com o que entregamos no campeonato."


No momento em que elas falavam isso para mim, parecia que ia caindo uma nova consciência, uma percepção de que viver de uma paixão é sim possível. Acordar e não só trabalhar. Levantar porque existe um propósito, porque tem mais gente compartilhando todo esse movimento com você. Porque energias juntas trazem mais força. Naquele momento eu entendi o quanto eu, Bia, não era feliz e não seguia nada do que estava no meu coração. Eu sempre escolhi caminhos que eu tive de exemplo, sem questionar. Pior ainda: eu questionava a minha capacidade, sempre.

Sabe aquela coisa... às vezes você só está tentando dar o seu melhor no lugar errado? Era isso.


Depressão, compulsão alimentar e um sentimento de incapacidade.


Depois disso, sem ter essa consciência e maturidade, eu entrei em uma profunda depressão. Até hoje não é um assunto confortável para mim de descrever e falar, mas penso que muitas pessoas passam pelo mesmo e lembro como eu me sentia sozinha, então, eu compartilho.

Os dias foram passando, eu não tomava banho, escovava os dentes, desenvolvi compulsão alimentar, comi chorando muitas vezes, engordei 25kg e tinha pensamentos horríveis sobre a minha própria vida.

E, para mim, eu estava sendo fraca, dramática, sensível demais e incapaz de lidar com uma situação. Como se fosse uma escolha estar naquele lugar. Ninguém ao meu redor sabia que eu estava daquele jeito, porque eu tinha medo de me julgarem. Fora do quarto eu era sociável, engraçada e sem muitos sintomas aparentes.


Até que a fotografia entrou na minha vida.


Em uma das manhãs que eu não tinha vontade de ver a luz do dia, eu peguei uma câmera fotográfica que tinha por conta da faculdade de jornalismo. Eu sempre gostei de me fotografar. Então, fiz um retrato meu. A configuração da câmera estava em preto e branco e eu me lembro até hoje do impacto que aquela foto teve na minha vida. Foi quando eu realmente vi o estado que eu estava. Doente. Fora de mim.

Fui correndo tomar banho, lavar o cabelo e me arrumar, como sempre gostei. Voltei e fiz novos retratos. Sorrindo, me movimentando...

E foi nesse momento que a fotografia mudou a minha vida.

Mesmo com 25kg a mais, não me reconhecendo direito, eu via a minha energia ali. A Bia que eu sempre fui. Eu pude me apegar em algum nível no sentimento que aquelas fotos me passavam e foi o suficiente para que eu conseguisse reagir.


Um retrato por dia e a vida GANHAVA COR.


Depois da primeira vez que eu me fotografei, eu consegui reagir de uma maneira inexplicável... Busquei outras opções dentro da comunicação. Atualizei meu currículo. Assistia vídeos e filmes que me inspiravam - geralmente apresentações de ballet. Passei a fazer isso todos os dias.

A minha rotina era assim: Acordar, tomar banho, me arrumar, fazer fotos minhas e começar o meu dia.


Pode parecer exagero, se você que está lendo nunca passou por algo parecido, mas a depressão é uma doença cruel. Ela vai te tirando de você aos poucos. Você vai se perdendo e ficando vazio de si mesmo. E, acredite se quiser, conseguir viver um dia normalmente pode ser o seu maior desafio. É um buraco sem fim que eu nunca mais quero sentir de novo.


Mas, a fotografia mudava tudo isso. Quando eu me fotografava, era como se tudo ganhasse cor, brilho, cheiro e sensações. A vida era mais vida e eu encontrava alguma parte de mim. Eu fiz isso por dias, enviando milhões de currículos e procurando outras 100 mil alternativas. Vendia marykay, trabalhava com meus pais na papelaria que eles tinham, ajudava minha irmã com o canal no youtube dela, sempre buscando estar em movimento e entregando o melhor que eu conseguia.


Minha fé.


Eu sou uma pessoa com muita, muita fé. Não tenho uma religião específica, mas eu confio cegamente em como tudo acontece na minha vida. Nessa fase eu tinha longas conversas - comigo, Deus, o Universo e seja lá como você queira ler - dizendo que eu me sentia pronta para usar meus sentimentos, para servir as pessoas e que eu sabia que eu tinha muito à oferecer, mas não enxergava como ou por onde ir.

Não me lembro ao certo quanto tempo durou, mas em um determinado dia, eu estava me fotografando, me olhando e sentindo aquele calor no peito, preenchida, cheia de vida e me veio o pensamento:


"Se é a fotografia que me faz ter vontade de viver, me preenche a alma e toca os mais profundos sentimentos em mim, só pode ser ela o caminho que eu tanto procuro!"


Na hora, mandei mensagem para duas amigas, pedindo se eu poderia fotografá-las naquele final de semana. Eu precisava entender se eu conseguia fazer os outros sentirem o que eu sentia. Caso contrário, eu não poderia fazer daquilo um trabalho, porque talvez eu não tivesse como me sustentar. E eu queria isso. Viver com paixão e fazendo o que eu amo.

Fizemos as fotos no final de semana e foi muito, muito especial. Eu conseguia ver na reação delas que eu tinha cumprido a missão. Elas também sentiram! Eu recebi mensagens lindas, depoimentos sobre como foi importante e único aquele momento.

Tudo vez sentido depois disso.


Eu já logo anotei tudo que eu precisava estudar, todas as metas que eu tinha para até 5 anos, montei meu primeiro site e fiz minha primeira apresentação com as informações e valores.

Minha primeira meta era fechar 2 ensaios até o final do ano - estávamos em novembro ou outubro - e eu fechei 13 ensaios. No primeiro mês que eu me dediquei à fotografia. Era a maior resposta que eu precisava. Eu confiei como se fosse um holofote me dizendo "é esse o caminho!"

Não só pelo retorno que eu tive, mas porque eu sentia, no fundo do meu coração, que eu tinha um propósito de vida. Algo transformador e enorme para viver dentro da fotografia.


Eu só tenho consciência hoje (4 anos depois) de tudo que eu construí e vivi. No dia em que eu fiz 1 ano do primeiro ensaio, a produção do programa Arte na Fotografia, me ligou dizendo que eu tinha sido selecionada para ser uma entre os seis participantes da quarta temporada. O primeiro reality show de fotografia do Brasil! O país inteiro enviando seus trabalhos e eu fui selecionada. Demorei alguns anos para acreditar hahahahah. Foi a experiência mais INSANA da minha vida. Depois dessa, só fotografar um parto normal chegou no mesmo nível.


Foram mais de 2.000 histórias documentadas até aqui.


Eu nem acreditei quando parei para contar uma por uma. Meu Deus! Você tem ideia da quantidade de trabalho por ano? por mês? Quanto orgulho eu tenho da minha história e de tudo que eu venho construindo.

Sempre procurando aprimorar, aprender, estudar, estruturar cada pedacinho da empresa. Essa é a parte mais difícil! Conseguir construir uma rede que funcione para atender uma alta demanda, sem perder a qualidade. Durante os primeiros 3 anos foi muito desafiador por eu ainda estar conectada emocionalmente ao meu trabalho. Tive - e tenho - que aprender a lidar com o meu relacionamento tão pessoal com a fotografia.


A profundidade e intensidade de onde ela surgiu em mim é o que faz com que as pessoas também sintam o que eu quero passar e sejam atraídas pelas minhas fotografias.


O equilíbrio entre a fotografia para a Bia e a fotografia da Bia Salla é o meu objetivo agora. Mas, de uma coisa eu tenho certeza, contar histórias e me conectar com as pessoas, despertando sentimentos e percepções é o meu propósito. Em qualquer meio artístico que eu encontrar. Afinal, despertar no outro é despertar em mim, olhar para o outro é olhar para mim. A fotografia sempre foi o caminho. A arte sempre esteve em mim. E arte só se faz através de trocas e conexões. Vivências, experiências e tudo que nos transforma. Quanto maior é a minha bagagem interior, maior é a profundidade do que eu crio fora.


"Tudo que eu vejo em você, existe primeiro em mim."



Ufa! Acho que consegui detalhar mais como foram esses primeiros 4 anos na fotografia. Se você leu até aqui, sério, você precisa me mandar uma mensagem contando! Eu só acredito que alguém leu um texto desse tamanho, sem dancinha, sem tiktok, sem youtube e transições incríveis quando eu receber uma mensagem, hahahahah. Se você leu e está passando por um processo parecido: se joga em algo que você sente prazer. O movimento, por mais desafiador que seja, é o primeiro passo para um processo de cura. Busque ajuda profissional, sem pensar duas vezes.


A vida é um presente valioso! Eu desejo que você queira viver intensamente cada dia da sua jornada.


Quem sabe a gente se encontra?


Com amor,

Bia.

Eu quero compartilhar histórias.

Viver. Criar. Sentir. Aprender.

Eu quero me apaixonar por quem é de verdade.

Histórias de verdade.

Eu quero tudo que me transforma.

Lugares. Conexões. Sentimentos.

Amar a mim e o outro.

Amar a mim e todas as mulheres.

Amar a vida.

Eu quero fotografar a vida.